TECENDO VÍDEOS



A roda está criada, não foi através do método cientifico, mas empírico. O cinema já é ancião, mas sempre renasce. É uma serpente que troca de pele. A arte, a política, a religião e a ciência, são os pilares da humanidade, não se esgotam, se transformam. Não que sejam necessariamente inovadoras. A história se repete. O que muda é o cenário, as personas, trilhas, cenas, perspectivas... Sempre há o conflito, mesmo quando aparentemente estático. O meio ambiente inquieto.

A tecedeira realiza o seu rito, sutil, bonachona, paciente. O pescador tece a sua teia, a aranha, a árvore, a mente, as estrelas... Tecendo Vídeos é um breve sonho, mas nenhum sonho é breve. É antropofágico, lúdico, sagrado. É mais uma maneira de afirmar os usos da Imagem, a presença do Imaginário, do Gênio Poético. O que se pretende aqui? Criar obras de arte? Formar artistas? Tudo é permitido. Mas não é essa a idéia. O que está em jogo é a criatividade, um sutil encontro entre o empírico e o cientifico, a confecção lúdica e séria de filmes únicos, com valor simbólico e perecível.

 O que se tece? Geralmente uma armadilha... Para peixes, insetos, corpos humanos. E também se tecem idéias, sonhos, brilhos e possibilidades. O que se oferece a estas crianças e jovens é justamente essa idéia. Nem rica, nem pobre, amável. Nem fácil, nem difícil, vivencial. Um gesto de amor pela natureza e pela cultura. Um passo firme, para qualquer direção realmente viva  que se queira seguir. 

Pois do contrário é apenas estar.  Não ser. Não "Fazer a Diferença", não adquirir a dimensão do sonho, nem atingir o outro lado. Seguir as pistas dos mesmos medos. Sendo um deles, quem sabe o mais terrível, o medo do outro. Justo por não ter buscado conhecer a si mesmo. 
Tecendo Vídeos, Tecendo Vidas... tecer nossas cabeças pelo bosque do Imaginário. 
#Walter Sarça

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Como Fazer Cinema - Alejandro Jodorowsky



1. PRIMEIRA LIÇÃO Sentar-se do amanhecer ao anoitecer na frente de uma árvore sentindo a luz. Voltar por sete dias seguidos e fazer o mesmo.

2. SEGUNDA LIÇÃO Voltar à noite com uma lanterna e iluminar a árvore por infinitos pontos distintos.

3. TERCEIRA LIÇÃO Colocar-se a um quilômetro da árvore. Olhar para ela fixamente e avançar centímetro por centímetro em direção a ela até que, depois de algumas horas, se choque o tronco com o nariz. (As duas primeiras lições servem para desenvolver o sentido da luz. A terceira para desenvolver o sentido da distância).

4. QUARTA LIÇÃO Colocar-se em um interior ou paisagem e mover-se pensando que seu próprio peito fotografa, depois pensando que a sua cara fotografa, depois o sexo, depois as mãos.

5. QUINTA LIÇÃO Coloque-se em um lugar e sinta que você é o centro dele. Logo sinta que está sempre na superfície ao redor do lugar. Ao final rompa a idéia de centro e superfície. Está aí, tudo está em você e fora de você ao mesmo tempo. Você é a parte do lugar. Existe o lugar. Você desapareceu!

6. SEXTA LIÇÃO Procurar a cor que não tem cor. Pegue uma página branca e veja suas cores. Pegue uma página preta e veja suas cores. Veja as cores de um vidro transparente. Descubra o arco-íris em um pedaço de terra, em um cuspe, em uma folha seca. Expresse a cor com materiais sem cor. Na verdade lhe pergunto, você sabe quantas cores tem a pele da sua cara?

7. SÉTIMA LIÇÃO Sinta as pontas dos seus dedos como se fossem a ponta da sua língua. Apóie as pontas dos dedos nos objetos do mundo pensando que são frágeis, que uma pequena pressão pode quebrá-los. Peça-lhes permissão antes de tocá-los. Antes de apoiar os dedos na sua superfície, sinta como penetra na sua atmosfera. Aprenda a sentir e a acariciar com respeito. Qualquer ação que faça no mundo com as suas mãos ou corpo pode ser uma carícia.

8. OITAVA LIÇÃO Pense que os atores vivem dentro de um corpo como centro de uma caverna. Peça-lhes que não gritem com a sua boca, e sim dentro de sua boca. Que não se expressem com a cara, e sim com vibrações. Viva debaixo da superfície. A superfície do rio não se move, mas você sabe que leva correntes profundas.

9. NONA LIÇÃO Não importam os movimentos de câmera. Ela deve mover-se somente quando não puder ficar quieta. Você leva o alimento na mão. A câmera é um cão. Faça-a seguir com fome o alimento. A fome faz com que o animal se apague. Não há cão, não há fome, não há câmera. Há acontecimentos. Você nunca pode comer a maçã inteira no mesmo instante. Tem que dar mordiscadas. Enquanto come, você tem uma parte. Deve saber que o pedaço que mastiga não é a maçã inteira. Você nunca pode ter a maçã inteira na boca porque por maior que seja a sua boca, não pode caber nela o fruto que é parte da árvore nem a árvore que é parte da terra. A tela é a sua boca. Ali entram pedaços. Partes do acidente. Não tente trabalhar com planos absolutos. Não creia que existe o plano melhor. Se pode morder a maçã em qualquer lugar. Se a maçã é doce, não importa onde você comece a comê-la. Preocupe-se com a maçã, não com a sua boca. Cineasta! Antologia de fragmentos, você também tem um fragmento, seu filme inconcluso, você é parte, é continuação. Não há encerramentos. Mate a palavra fim. Você começará um filme no dia em que ser conta que você simplesmente continua. Não procure o prestígio. Desdenhe os efeitos. Não adorne. Não pense o que a imagem vai produzir. Não a procure. Receba as imagens. A caça está proibida. A pesca está permitida.

10. DÉCIMA LIÇÃO Nunca trabalhe no papel seus movimentos de câmera. Chegue aos lugares pensando que você não irá mover a câmera, que não irá iluminar, que não irá inventar. Não crie cenas, crie acidentes. Não crie esses acidentes em direção à câmera. Você não está fazendo um filme, você está metido em um acidente. Parte do acidente são seus movimentos de câmera.

11. DÉCIMA PRIMEIRA LIÇÃO E de repente, o grande prazer. Um plano pensado com a câmera opinando com luz artificial, com “atuações” (uma verdadeira sobremesa!). De verdade lhe digo, por este caminho você pode chegar a fazer filmes de Hollywood dos anos 40. Se você quer ser um grande cineasta de vanguarda, volte a filmar “E O Vento Levou”, exatamente igual, com atores de corpos gêmeos aos de Clark Gable e Vivian Leigh. Se conseguir que seu filme não possa ser distinguido do original, você passou à história.
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Dogma 95


também conhecidas como “voto de castidade"


1.As filmagens devem ser feitas em locações. Não podem ser usados acessórios ou cenografia (se a trama requer um acessório particular, deve-se escolher um ambiente externo onde ele se encontre).

2.O som não deve jamais ser produzido separadamente da imagem ou vice-versa. (A música não poderá ser utilizada a menos que ressoe no local onde se filma a cena).

3.A câmera deve ser usada na mão. São consentidos todos os movimentos - ou a imobilidade - devidos aos movimentos do corpo. (O filme não deve ser feito onde a câmera está colocada; são as tomadas que devem desenvolver-se onde o filme tem lugar).

4.O filme deve ser em cores. Não se aceita nenhuma iluminação especial. (Se há muito pouca luz, a cena deve ser cortada, ou então, pode-se colocar uma única lâmpada sobre a câmera).

5.São proibidos os truques fotográficos e filtros.

6.O filme não deve conter nenhuma ação "superficial". (Homicídios, Armas, etc. não podem ocorrer).

7.São vetados os deslocamentos temporais ou geográficos. (O filme se desenvolve em tempo real).

8.São inaceitáveis os filmes de gênero.

9.O filme final deve ser transferido para cópia em 35 mm, padrão, com formato de tela 4:3. Originalmente, o regulamento exigia que o filme deveria ser filmado em 35 mm, mas a regra foi abrandada para permitir a realização de produções de baixo orçamento.

10.O nome do diretor não deve figurar nos créditos.

Todos os filmes que recebem o reconhecimento do Dogma 95 seguem 10 regras estipuladas por Trier e Vinterberg. Para tanto, os realizadores devem enviar cópias de seus filmes à entidade que gerencia o Dogma 95 e submetê-los à avaliação. Caso aprovado e verificado que o voto de castidade foi cumprido, os autores recebem o Certificado Dogma 95.
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CUT-UP

O precedente histórico da técnica cut-up data da década de 1920 quando Tristan Tzara ofereceu-se para criar um poema a partir de palavras retiradas aleatoriamente de um chapéu.

Na década de 1950, o pintor e escritor Brion Gysin desenvolveu o método do cut-up acidentalmente quando resolveu cobrir a superfície de uma mesa com jornais para protegê-la.
Isso feito, o artista passou a cortar jornais com uma lâmina e percebeu que as camadas cortadas ofereciam justaposições interessantes. Após essa descoberta, começou em seguida a reorganizar esses cortes de jornal que resultou no experimento inicial do cut-up. Ao comunicar ao amigo Burroughs o que havia acontecido, ambos então passaram a aprimorar a técnica, estendendo-a aos media impressos e gravações em áudio. O objetivo da dupla era tentar decodificar o conteúdo implícito do material coletado, ou seja, tentar decifrar o verdadeiro sentido de um texto. Mais tarde ambos publicaram o livro intitulado The Third Mind (1978) – uma coleção de escritas cut-ups e ensaios sobre a forma. Com isso, o cut-up surge como um estilo literário que tenta quebrar a linearidade da literatura comum.


O cut-up foi influenciado pela técnica do collage usado por artistas e fotógrafos. Gysin e Burroughs procuraram levar a espontaneidade do collage para a literatura.

O cut-up foi desenvolvido por Burroughs por meio de uma justaposição de trechos de textos coletados de diversas fontes, como a Bíblia, jornais, diálogos de filmes, gravações em áudio e outros, compõe a sua obra. Ele ordenava esses trechos e os reescrevia. Segundo o escritor, o método é simples: deve-se pegar uma página e cortá-la ao meio para que se obtenha quatro seções e, então, reorganizar as sessões misturando a seção um a quatro e a seção dois a três para se obter uma nova página. Às vezes se tem a mesma coisa, mas, às vezes, algo inusitado é formado. Isso pode ser feito com discursos políticos, com poemas de grandes escritores, como Shakespeare e Rimbaud. De fato, o interesse do escritor nesta técnica é a de sair do convencional e obter novos discursos, já que, segundo ele, as palavras perderam sentido durante anos de repetição. O autor, em uma entrevista concedida ao jornal Paranaense Nicolau (1973) afirmou que: “O passado é, em grande parte uma fabricação dos vivos. E a história é simplesmente um montão de coisas fabricadas. Não existem coisas de verdade”. Ainda segundo o autor, o cut-up é uma experiência que pode ser usada por qualquer um. Ele atesta que os melhores textos escritos foram feitos quase que acidentalmente por escritores antes que o método do cut-up fosse explicitado.

O escritor explica:

O cut-up consiste numa introdução deliberada das coisas pela porta dos fundos. Vamos supor que você está olhando um cara atravessando a rua com um maço de flores e uma bicicleta. Um carro o atropela, você o vê voando à sua frente enquanto uma outra pessoa vem em sua direção gritando ‘táxi’. Então você olha para o neon da loja da frente e vê escrito: FLORICULTURA PARAÍSO. Isso seria um cut-up. A vida é um cut-up. O que é a vida senão uma seqüência mais ou menos ilógica de acontecimentos que não se prestam a nenhum segundo para fazer sentido?

A cada vez que se olha pela janela ou que se anda pela rua, a consciência descreve círculos, vai de frente para trás e vice-versa [...] uma das tarefas da arte é chegar o mais perto possível do mecanismo da percepção. (1973)
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"Disseram-nos que a vida é escuridão; e no vosso cansaço, repetis o que os cansados vos disseram.

E eu vos digo que a vida é realmente escuridão, exceto quando há um impulso. E todo impulso é cego, exceto quando há um saber. E todo saber é vão, exceto quando há trabalho. E todo trabalho é vazio, exceto quando há amor. E quando trabalhais com amor, vós vos unis a vós próprios e uns aos outros, e a Deus.

E o que é trabalhar com amor? É tecer o tecido com fios desfiados de vosso próprio coração, como se vosso bem-amado tivesse que usar esse tecido. É construir uma casa com afeição, como se vosso bem-amado tivesse que habitar essa casa. É semear as sementes com ternura e recolher a colheita com alegria, como se vosso bem-amado fôsse comer-lher os frutos. É por em tôdas as coisas que fazais um sôpro de vossa alma, E saber que todos os abençoados mortos vos rodeiam e vos observam."
# Gibran Khalil Gibran

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